Artigo publicado no Jornal STOP, edição 57
Norberto R. Keppe,
Extrato do livro Escravidão e Liberdade,
– Por algum tempo eu quis me separar de minha esposa, mas agora é ela quem mais deseja essa separação, disse o cliente em sua sessão de análise.
– Ou agora o sr. vê melhor que sempre teve vontade de se separar? – Mas sou eu quem quer a separação?
– É o sr. quem está falando. O sr. não disse do seu interesse por outra mulher?
– Neste caso, por que não quero ver que sou eu quem deseja cortar esse relacionamento?
– Só para não desistir de se separar. Como o sr. deseja inconscientemente essa separação, se aceitasse tal consciência não se separaria mais, indo contra essa vontade que sempre o dominou.
Todo o erro em que o ser humano deseja permanecer, ele o conserva esquecido, para não ter que mudar — criando um confronto entre o bem e o mal em seu íntimo — esse é o motivo da existência da neurose, psicose ou doença física.
– Parece que sou bem pior do que pensava.
– O que acha que acontece?
– Quanto mais faço análise, pior me vejo.
– É como se a sra. estivesse agora vendo um filme de terror, que não quisesse chegar até o fim — assim é nosso interior.
Não existe bem maior senão aquele quando o ser humano percebe seu mal.
A vida eterna será semelhante ao bem ou ao mal que o ser humano praticou, porque ele irá carregar para lá a mesma energética que desenvolveu aqui.
– Sonhei que procurava uma antiga namorada e não a encontrava.
– A que associa a antiga namorada?
– Egoísmo e rispidez.
– O sr. estava enamorado de seu egoísmo e rispidez, mas no fundo não quis retornar a eles.
Não existe bem maior, senão aquele, quando o ser humano percebe seu mal, deixando que o bem prevaleça em sua existência.
– Tenho a impressão que o maior bem que a psicanálise trouxe, foi a descoberta do inconsciente.
– Por que pensa assim?
– Acredito que pessoa alguma aceita com boa vontade ver suas próprias misérias.
Quando Freud iniciou seu trabalho, mostrando quantas desavenças apareciam com a própria vida sexual, o ser humano encheu-se de pânico — não querendo perceber que esse aspecto constituía apenas pano de fundo, escondendo toda a terrível maldade que havia por detrás.
– Eu sempre comparo a hipocrisia como sendo uma maneira de esconder toda a maldade humana.
– O sr. tem agora a ideia de que a função da hipocrisia ainda é pior do que se pensava.
Notem os leitores que a colocação da hipocrisia mais no setor da sexualidade, foi uma forma de abrandamento da verdadeira realidade do ser humano, que não quis que aparecesse toda a sua ruindade.
– Antigamente eu tinha o hábito de confessar os meus pecados, principalmente os atinentes ao sexo, e agora vejo que não me adiantou nada.
– Por que acha isso?
– Eu saía do confessionário sentindo- me perdoada, mas logo em seguida praticava a mesma coisa.
Os religiosos tinham a ideia de que havendo o arrependimento, o penitente iria se corrigir, e não que tal atitude iria contribuir para que ele voltasse a idêntica atitude.
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