A bondade e o belo constituem a base da civilização e do equilíbrio humano
Artigo publicado no Jornal STOP, edição 24
Norberto R. Keppe,
extrato do livro Sociopatologia – Estudo sobre a Patologia Social – Bases para a Nova Civilização do 3º Milênio
Verdadeiro hino à beleza e às artes na civilização, este livro mostra que a ética, a estética e a atividade artística são o fundamento do processo civilizatório e não a matemática (erroneamente colocada como base da vida científica e social).
Keppe não só analisa o processo doentio da sociedade mas também apresenta uma forma de socioterapia (tratamento da patologia social). Esclarece a unificação de todos os campos do conhecimento – e como um elemento não pode existir sem o outro – ou seja, a unidade existente entre todos os conhecimentos e sentimentos humanos.
É necessário reparar um grave erro que se tem cometido contra os artistas ao dizer que vivem no mundo da irrealidade. Pelo contrário, são justamente eles que abrem o mundo da verdade para todos – motivo pelo qual o romance, a música, a pintura, a escultura, arquitetura são muito apreciados – enquanto que um livro de “ciência pura” é totalmente desinteressante.
Estou dizendo que é pelo sentimento unido ao intelecto que a verdade entra na civilização – e só o indivíduo que aceita viver a emoção consegue penetrar na realidade. Por esse motivo o artista é sempre amado e seguido por multidões.
“O mundo artístico não é só enfeite, não é algo que existe ao lado da vida, mas é o seu próprio fundamento; ele é a realidade que a sociedade não compreende perfeitamente por causa da sua fantasia.”
O que as artes mostram é o mundo da realidade, pelo menos como deveria ser – em oposição à enorme fantasia em que vivemos. Tanto a vida econômica, como a política e social transcorrem inteiramente fora da realidade, pois:
1) o povo é subordinado a alguns grupos de indivíduos acentuadamente doentes;
2) o trabalho é impedido de ser realizado para que o poder não escape das mãos de poucos;
3) e, o pior ainda, toda atividade é feita para explorar o próximo – e não ajudá-lo.
Alguns artistas modernos têm retratado tal estado, motivo pelo qual tem surgido no campo da sociologia, filosofia e ciência um grande número de pessoas conscientizando esta situação.
Quando o artista realiza o seu trabalho, ele o faz com o sentimento – motivo pelo qual acerta mais com a realidade.
Existe o velho adágio que diz: “a virtude está no meio” (virtus in medio), e o campo das artes está justamente no meio termo entre o intelecto e a sensação, entre a ciência e a ação pura.
A obra de arte expressa a psique de seu autor e sobretudo todos os fatores que existiram em seu tempo: filosofia de vida, estilo da sociedade e a espiritualidade típica. É fácil verificar a enorme diferença de mentalidade entre o ser humano atual e o do passado; parece que o século XX tornou-se completamente diferente de todos os outros.
É fato sobejamente sabido que os artistas são pessoas diferentes do ambiente social; caracterizam-se não só pela conduta de oposição, mas sobretudo por maior desenvolvimento em relação aos outros indivíduos de sua época – porque eles estão mais adiantados no tempo e espaço, pois o sentimento vê mais adiante do que a razão pura.
“Se uma pessoa não tiver em sua base um bom desenvolvimento estético, jamais conseguirá ter equilíbrio – ou até mesmo qualquer espiritualidade, porque lhe faltará o sentimento suficiente.”
Uma obra literária deve transmitir fundamentalmente a estética, sem esquecer a realidade – enquanto que um trabalho filosófico ou científico tem de manifestar basicamente a verdade, sem deixar seu fundamento estético. Quando um e outro não realizam essa dialética, perdem o seu valor literário ou científico.
“Como a arte só poderá ser realizada com o verdadeiro sentimento (que é o amor), o artista se caracteriza pelo afeto. A estética é o elemento de cura para as dificuldades psicológicas e sociais.”
Milan Kundera fala em seu livro A Arte do Romance, na página 31:
“O romance (como toda a cultura) encontra-se cada vez mais nas mãos das mídias… amplificam e canalizam o processo de redução… as mesmas simplificações e clichês susceptíveis de serem aceitas pela maioria. As coisas são mais complicadas do que tu pensas. É a verdade eterna do romance que cada vez menos se faz ouvir”.
Neste trecho existe uma verdadeira aula de sociologia, psicologia e filosofia. Se o povo prefere ler o romance é porque existe nele mais ciência do que nos livros científicos, devido à sua união do sentimento com a verdade.
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