O Maior Bem é a Conscientização do Mal

O Maior Bem é a Conscientização do Mal

Artigo publicado no Jornal STOP, edição 51

Norberto R. Keppe,
Extrato do livro O Homem Interior

www.livrariaproton.com.br
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Ou o ser humano realiza o bem, ou ele viverá nesse seu mundo tenebroso; ou ele faz o bem, ou estará no mal – pois todo estancamento do bem é patológico. Neste caso, podemos afirmar que se não estivermos na ação (boa) estaremos na ruindade.

– Só quando comecei a realizar o bem é que vi como nunca o havia realizado antes – mesmo sendo médico, disse o cliente em sua sessão de análise.

– Sabe por quê? – perguntei.

– Por incrível que pareça, somente agora é que estou conscientizando como sempre fui inútil, ao não realizar o bem.

– O sr. vê que é através do ato bom que o ser humano adquire consciência, principalmente do mal – que é a sua privação.

Só o indivíduo que realiza o bem tem forças para ver o seu mal, porque assim ele sente mais segurança em notar suas dificuldades.

– Tenho dificuldade em realizar o bem, mesmo sendo obrigado pelo meu trabalho.

– O quê, por exemplo?

– Como professor da Millennium leio os textos que ajudam sobremaneira os alunos em sua existência – e ai me dá uma certa resistência.

– O desejo de prejudicar é maior do que o de ajudar?

– Mas, por quê?

– Por causa da inveja, respondi.

Existe uma grande distância entre conscientizar o bem e o de realizá-lo; todos nós queremos o bem, mas será que o temos? Enquanto não o fizermos, não o teremos – mesmo que o desejemos.

A questão fundamental é que o conhecimento puro e simples é algo intelectual, enquanto que a consciência inclui também o sentimento, que é a percepção e a vivência desse elemento.

A única maneira de perceber os erros que se cometem é através da realização do bem, porque eles consistem justamente na privação ao que é bom; posso dizer que quem está no mal não vê nem o bem e muito menos o mal – só quem está no bem é que tem possibilidade de enxergar o mal e principalmente o bem com o qual foi agraciado – desde que este último é a visão de tudo.

Todo e qualquer tratamento de psicoterapia tem de levar o indivíduo através da consciência da patologia, para alcançar de algum modo a sanidade que deixou lá atrás.

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Narciso, tela de Catinari. Para atingir a sanidade, a pessoa tem de aceitar ver a própria patologia, como o egocentrismo ou narcisismo, e o grau de inversão em que vive.

– Não sei por que estou sempre rejeitando desenvolver meu trabalho; não publico o livro que escrevi, mas faço outras coisas.

– O que acha de sua conduta?

– Inveja ao bem.

– Mas por que dá tanta ênfase à inveja, e não vive o bem e a sanidade que tem no próprio interior? perguntei.

– Mas não sabia que era possuidor de alguma sanidade.

É fundamental saber que para perceber qualquer patologia, o ser humano tem de possuir sanidade – aliás, é o que constitui a base da própria personalidade, porque sem ela não haveria nem o ser humano.

Só quem tem consciência, é que não se vê muito correto, de maneira que podemos afirmar que a ideia de perfeição que muitos carregam, encobre erros extremados. Parece que não existe, nunca existiu, e jamais existirá quem seja perfeito.

– Meu filho fala que seu chefe se acha perfeito; ele se mostra extremamente rígido e fora do mundo.

– O que vê em sua conduta?

– Penso que ele não tem consciência de problema algum.

– Só as pessoas que não têm consciência é que se acham perfeitas.

É por este motivo que os indivíduos que se acreditam muito corretos são os mais doentes, só porque não enxergam falha alguma. De outro lado, para enxergar o mal temos de praticar o bem, sendo que o ser humano só verá o mal se estiver empenhado em realizar o bem.

– Minha mulher teve um desastre de carro, e fiquei muito irritado com isso. Foi em uma semana muito agitada, e acredito que ela foi influenciada até pela minha agitação.

– Mas ao que associa o que aconteceu com ela?

– Alienação, atitude de distração, fora da realidade.

– Note que o sr. se irritou com a consciência da alienação que ela lhe trouxe, algo distante de sua interpretação.

Há uma diferença fundamental entre o meu trabalho científico e o dos religiosos; estes últimos só aceitam em suas igrejas os indivíduos mais «virtuosos », que não tenham pelo menos alguns vícios capitais – enquanto que em nossa atividade, damos ênfase primordial à percepção dos males, até que ele resolva o que fazer com ela – sendo que a consciência é o mais importante elemento de correção.

Posso afirmar que a maior virtude que o ser humano pode possuir é o da aceitação da consciência de seus males.

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