Psicanálise Integral

Psicanálise Integral

Artigo publicado no Jornal STOP, edição 61

Norberto R. Keppe,
Extrato do livro A Medicina da Alma,

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Obra A Medicina da Alma de Norberto Keppe (www.livrariaproton.com.br)

Dentre todos os representantes da Psicologia Profunda, Freud, evidentemente, foi quem lançou todas as suas bases principais, e permanece como o seu criador e, até agora, o mais exato pesquisador da vida psíquica.

No entanto, ele permaneceu restrito ao campo dos instintos. Aliás, um fato que se observa frequentemente entre as pessoas psicanalisadas pelos freudianos ortodoxos, é uma grande insatisfação existencial, isto é, como se não tivessem encontrado o seu verdadeiro ideal.

Há poucos dias, conversando com uma senhora, psicanalisada em Viena, disse-nos que, depois de terminado o seu tratamento, sentia-se um tanto frustrada, pelo fato de que não havia resolvido absolutamente todos os problemas quanto ao seu modo de viver e pensar. “Tenho a impressão — disse — que depois de algum tempo de psicanálise, a gente espera algo mais. Não que ela faça tudo, mas que compreenda melhor todos os nossos anseios, cuja maioria escapa completamente às suas explicações.”

De fato, Freud deu o primeiro e grande passo, para a compreensão da psique humana, e não poderia, pelo próprio processo natural de desenvolvimento científico, fornecer os elementos completos de um novo ramo de estudo. Depois dele, surgiram outros autores, que procuraram ampliar esse campo de conhecimento e — conservando a mesma base freudiana — chegaram a novas descobertas. Muitos rejeitaram alguns pontos, como o Complexo de Édipo, a sexualidade infantil, a base sexual das neuroses, o complexo de castração e a inveja do pênis, mas apresentaram elementos úteis para o seu progresso.

psicanalise-integral-colettiCarl Gustav Jung descobriu a existência de um inconsciente comum a todos os homens, que denominou de coletivo: certos temores universais, algumas ideias e conceitos sempre existiram e continuarão a permanecer na mente da humanidade.

Aliás, Szondi, um psiquiatra húngaro, estudou a possibilidade da transmissão familiar do mesmo tipo de inconsciente, chegando à elaboração de um teste de personalidade, notável pela sua exatidão.

Porém, os autores da Psicologia Profunda tentaram explicar todo o mecanismo do comportamento através dos elementos lançados no inconsciente — com exceção dos analistas existenciais, que se restringiram mais ao campo da vida consciente.

Em nossos trabalhos psicanalíticos, tentamos compreender o ser humano por um mecanismo mais dinâmico e atuante, que denominamos de transconsciente, isto é, consciência da transcendência. Pela análise dos neuróticos, fomos observando que, à medida que seus distúrbios emocionais são corrigidos, eles procuram resposta para certos anelos de caráter espiritual: “O que é a morte?” “Quem criou o mundo?” “O que o homem faz aqui?” “Existe vida depois da morte?”

O próprio mestre da Psicologia do Inconsciente dedicou os últimos anos de sua existência a esse assunto. Publicou em 1927 O Futuro de uma Ilusão, depois Uma Neurose Demoníaca no século XVIII, Uma Experiência Religiosa e estava escrevendo um trabalho sobre Moisés, quando faleceu.

O caminho seguido por ele, em sua psicologia, é o trilhado por todas as pessoas que fazem psicanálise, e pela própria ciência. Na Europa, a criação de várias escolas de Análise Existencial, ultimamente, é justamente devido ao deslocamento parcial da problemática do instinto para o espírito.

Provavelmente, com a divulgação das descobertas freudianas e com as milhares de pessoas psicanalisadas no mundo inteiro, os casos mais típicos de histeria estão ficando relativamente raros. E não seria de se admirar que, um dia, houvesse a sua extinção, depois de ter constituído a base dos conhecimentos do inconsciente.

Um outro fato que se nota com muita clareza é o desejo que o homem tem de uma explicação científica sobre os motivos de sua própria conduta, abandonando as tradicionais.

Por exemplo: o vício é atualmente analisado segundo certos componentes patológicos da personalidade, e os próprios sacerdotes, pastores e religiosos, esclarecidos, estão encontrando maior compreensão dos indivíduos que permanecem indefinidamente enredados nos seus “pecados”.

Aliás, é através dos fatos inconscientes que encontramos uma melhor explicação dos atos de bruxaria e castigos que chegaram à Inquisição, na Idade Média. Como nossos leitores poderão notar, procuramos através da Psicanálise Moderna completar o esquema freudiano dos instintos, com um outro espiritual.

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