Seja Mais São, Percebendo Sua Doença (Mental)

Seja Mais São, Percebendo Sua Doença (Mental)

Artigo publicado no Jornal STOP, edição 74

Norberto  Keppe,
Extrato do livro A Medicina da Alma,
capítulo Doenças Mentais, pág. 151

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O leigo faz grande confusão quando discute sobre psiquiatria, ou sobre psicanálise. Aliás, somente um especialista, que tenha experiência, é capaz de distinguir o que compete ao técnico em psiquiatria, ao psiquiatra, e ao especialista em psicanálise.

A psiquiatria é um campo exclusivamente médico, visa o tratamento dos indivíduos portadores de psicose — as chamadas doenças mentais. Este tratamento geralmente é feito com elementos medicamentosos, como a insulina, ou com choques elétricos etc.

O número de doentes mentais na sociedade contemporânea é assustador. Nos Estados Unidos, calcula-se que 14% da população sofre de um distúrbio mental grave. Os vários tipos de psicoses, segundo Carl Schneider, são:

a) O grupo dos doentes privados do pensamento: são aqueles cujas ideias surgem de repente, como por um ato de mágica, isto é, os sintomas são encontrados geralmente nos que se acham chamados para uma missão especial, seja no campo religioso, científico, político, cultural etc.. Eles se sentem como que manobrados por pessoas ou por forças externas que dominam a própria vontade.

b) Existe um segundo grupo de doentes de pensamento incoerente, saltitante: por falta de dinamismo vital, que se manifesta (em vista de sua debilidade afetiva) no comportamento, que possui um Ego fraco, sem impulsos e sem espontaneidade.

Assemelham-se a uma lâmpada que perde sua luz. Têm contínuos estados de angústia, de ira, de choro e de desespero. Sofrem de alucinações relacionadas com o próprio corpo (sentem irradiações físicas, mudanças na própria estrutura etc.).

c) Finalmente, um terceiro grupo de doentes com o pensamento confuso: são os indivíduos dotados de ideias fixas sobre a própria importância (têm uma verdadeira mania nesse sentido). São indiferentes aos verdadeiros e reais valores, fazendo confusão entre eles. Têm o afeto de modo inadequado. Este último grupo é conhecido mais pelo nome de esquizofrenia.

Outro autor, que é considerado o expoente máximo em trabalhos de Psicopatologia, Carl Jaspers, divide esses doentes em três grandes grupos também:

a) Os portadores de epilepsia genuína, que se caracterizam por uma perturbação do estado consciente, com a perda parcial ou total dos sentidos.

b) Os esquizofrênicos, cuja vida psíquica sofre uma deslocação.

c) Os maníaco-depressivos, que sofrem de uma perturbação no estado de espírito, em sua disposição geral.

E, dentre os três grupos, os esquizofrênicos são os que despertaram maior interesse dos psiquiatras, devido à enorme variedade de sintomas. Podem apresentar as seguintes formas: esquizofrenia paranoide, hebefrenia, propfhebefrenia (sem tradução), paranoia (Kraepelin), catatonia, esquizofrenia pseudoneurótica (Hoch), parafrenia, mania de autorreferência e ideia fixa.

As causas da esquizofrenia não são ainda conhecidas perfeitamente. A escola vienense moderna atribui a dois fatores: um psicológico e outro orgânico. De início, haveria um componente patológico psíquico, que agiria no cérebro do indivíduo, levando-o a voltar as costas ao mundo exterior, refugiando- se na irrealidade. Aliás, esta atitude é tipicamente neurótica.

Porém, na doença mental, haveria também um outro fator orgânico, hereditário. Certas células cerebrais se alterariam em consequência do desprendimento do ácido lisérgico, produzido pelo próprio indivíduo (1). Assim sendo, a doença mental seria o resultado de um processo misto, ou melhor, de uma transformação celular, após um período de perturbação emocional.

1) Esta hipótese, muito aceita pelos modernos psiquiatras, encontra confirmação em várias doenças psicossomáticas, com especial ênfase nas úlceras estomacais, de fundo nervoso nítido.

Através de um esquema, seria o seguinte:

PSICOSE-NEUROSE-NORMALIDADE

O nome esquizofrenia foi dado por Eugen Bleuler, em 1908, e, mais tarde, Kahlbaum e Kraepelin a chamaram de demência precoce.

Em Viena, 18% das mulheres e dos homens internados nas clínicas psiquiátricas sofrem desse mal. Entre os casos crônicos, foi encontrada uma média de 25% — número só superado pelos alcoólatras (2).

Hoje em dia, costuma-se falar mais de reação esquizofrênica que, segundo Adolf Meyer (EUA) pode se apresentar das seguintes maneiras:

1. Por uma ideia supervalorizada; 2. uma paranoia “querulante”; 3. pela paranoia propriamente dita; 4. pela parafrenia; 5. finalmente, pelo verdadeiro processo esquizofrênico.

O professor Hans Hoff, catedrático de neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina de Viena, encontrou os seguintes sintomas básicos nesses doentes:

1. Uma introversão mais ou menos pronunciada; 2. regressão da libido e crescimento do próprio Eu, como existe tipicamente no narcisismo; 3. finalmente, perda da realidade, levando o indivíduo a viver no mundo dos sonhos e da realidade, concomitantemente, sem distingui-los.

Para Hoff, existem três tipos de esquizofrenia: a) a do tipo paranoide, b) a catatônica e c) a hebefrênica.

“Não existe ser humano algum na face da Terra que não tenha neurose”
“Não existe ser humano
algum na face da Terra
que não tenha neurose”

Existem indícios, logo no início da doença, que poderão alertar as pessoas que rodeiam um futuro esquizofrênico, evitando que o mal progrida. São os seguintes:

Primeiramente, uma fase chamada hipocôndrica-neurastênica, quando julgam que houve mudanças no seu corpo: os olhos e a fisionomia mudaram, os genitais desaparecem ou se confundem com os do outro sexo. O indivíduo não consegue mais pensar, e ideias alienadas o dominam.

Aparecem distúrbios de natureza sexual. Os homens pensam que os outros desejam fazê-los uma mulher, ou vice-versa.

Ou aparece um amor exagerado a distância: devido ao narcisismo, a pessoa não consegue se aproximar do objeto amado e escreve cartas, telefona e usa de meios mais imaginários que reais.

De outro lado, a retirada do exterior surge com acentuada tendência para filosofar, achando que o mundo mudou muito.

O indivíduo nega-se a estudar; às vezes, recusa-se até em se lavar (especialmente no começo da hebefrenia).

Em seguida, toma uma atitude de absoluta frieza, ou de agressividade com os seus pais, podendo agredi-los. Esporadicamente, apresentam sintomas neuróticos compulsivos.

Stransky fala dos atos criminosos dos esquizofrênicos em pleno dia e em ambientes movimentados, pois eles afirmam que receberam uma ordem para fazer isso — atos comuns de violação sexual, principalmente.

Notam-se também fenômenos paranoides, como se o ambiente os perseguisse. Estas ideias delusórias podem ter duração mínima, de frações de segundo, ou mais ou menos duráveis.

Finalmente, o indivíduo apresenta uma geral desorientação, seguida de alucinações, de profunda inquietude e de agressões. Isto pode aparecer repentinamente, geralmente, à noite, começando sempre com mecanismos histéricos, ou com sonhos confusos. Porém, a doença pode iniciar com uma tentativa de suicídio (quando a pessoa nota a sua aproximação e tenta fugir pela autoeliminação).

Outro famoso especialista vienense, Arnold, encontrou os seguintes indícios sobre essa doença:

1. O indivíduo foge de seus pensamentos, aparecendo um depois de outro, sem nexo. 2. Aparecem conteúdos psíquicos completamente novos: grande ambivalência afetiva, sentimentos de ser abençoado e gratificado com uma graça etc. 3. Sentimentos religiosos cósmicos, com pensamentos sobre o fim do mundo etc. 4. Estupor intenso.

Quando o indivíduo apresenta os seguintes sintomas, Arnold acha muito desfavoráveis, para a terapêutica: confusão completa de pensamentos. Sentimentos orgânicos novos e estranhos. Alucinações físicas. Vozes que falam na terceira pessoa e dissociação de afetos.

Quisemos dar essas noções básicas sobre as doenças mentais, a fim de os leitores terem uma pequena ideia sobre a grande diferença entre uma neurose e uma psicose, bem como entre os laços comuns, pertencentes a ambas.

(2) Viena sempre hesitou, mais do que os outros centros médicos, com o diagnóstico de esquizofrenia. “Mais ignorante, o psiquiatra mais frequentemente faz o diagnóstico de esquizofrenia”, disse Wagner-Jauregg.

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