Teomania (Soberba): A Principal Causa dos Males Humanos

Teomania (Soberba): A Principal Causa dos Males Humanos

Artigo publicado no Jornal STOP, edição 49

Norberto R. Keppe,
Extrato do livro O Reino do Homem

www.livrariaproton.com.br
2ª Edição, comemorativa dos 40 anos da Sociedade Internacional de Trilogia Analítica (Psicanálise Integral) – SITA

“A única maneira de o homem salvar a cultura e a civilização é através da consciência de seus erros, e este livro procura mostrar como as veredas que ele tem escolhido estão ao contrário de sua sanidade e existência de vida autêntica”, afirma Keppe sobre sua obra O Reino do Homem.

Neste livro, ele faz um estudo da História da Civilização à luz da Psicopatologia (ciência que estuda a doença psíquica do ser humano), ou melhor, analisa por que filósofos, teólogos, economistas, sociólogos, pedagogos organizaram sistemas contrários ao verdadeiro bem-estar para o ser humano e a humanidade.

Keppe fornece um novo enfoque à marcha da civilização, do Oriente Antigo aos dias de hoje, tomando por base o que realmente determina a conduta do ser humano: sua maneira de pensar, que tem origem em seus sentimentos.

Se predominar o amor na personalidade, diz ele, tudo que se pensar e fizer será certo; mas se for a inveja, o ódio, a megalomania e principalmente a teomania que comandarem, a história individual e coletiva terá um rastro de sangue e abominação ao redor.

Este livro é um marco no desenvolvimento da ciência da psico-sócio-patologia, criada por Keppe (estudo integrado da doença social e psicológica), que hoje é ensinada no Instituto Educacional Keppe & Pacheco e na Escola de Línguas Millennium, em diversos cursos.

Teomania (Soberba): A Principal Causa dos Males Humanos

A Arrogância (óleo sobre tela), de Catinari
A Arrogância (óleo sobre tela), de Catinari

Temos de admitir que os problemas mais agudos da humanidade ainda não foram cuidados; sou de opinião que o ser humano está demorando muito para colocar o dedo em suas feridas mais dolorosas; e elas são: sua mania em querer ser Deus, sua empáfia e arrogância.

Parece que este campo foi reservado ao cientista da psicopatologia, por absoluta necessidade da experimentação.

O maior problema do homem não são os erros que comete, mas o seu desejo de ser perfeito, de preferência um outro deus (teomania); esta é a fonte de todos os males que a humanidade vem passando, desde que Adão e Eva “renunciaram” a sua condição humana e, de maneira muito sutil, atribuímos-lhes as falhas que cometemos.

Por este motivo toda a organização social visa à repressão aos erros e jamais à conscientização da arrogância, megalomania e soberba.

Fizemos uma sociedade baseada na nossa fantasia, para tentar viver na ilusão.

Se verificarmos as organizações sociais, políticas, econômicas, científicas, religiosas, filosóficas, verificaremos que todas elas têm um só fito: a egolatria do ser humano. Neste caso, podemos afirmar com certeza que toda a estrutura social tem base falsa, exatamente ao contrário do que deveria ter sido feito. E tal fenômeno invadiu todas as áreas, inclusive a da psicoterapia.

Quando um analista trilógico atende o seu cliente, procura torná-lo consciente dos erros que comete, denominados de psicopatologia, para corrigi-los, porque a intenção de esconder tal percepção é justamente a causa de todos os problemas, pois o homem procura de toda maneira parecer perfeito, incentivando a sua megalomania; a conclusão a que podemos chegar é que o campo tradicional freudiano da psicoterapia em geral colocou como fito principal (à semelhança de todas as outras finalidades humanas) a realização “suprema” da aspiração do homem: ser um deus perfeito.

Todo sofrimento em nossa existência é proveniente do afastamento do Criador; não existe outro, pois tal atitude constitui uma rejeição à vida, à realidade e à beleza que formam nossa estrutura fundamental. Por exemplo: sempre pensamos que temos a vida dentro de nós e não que estejamos dentro da vida — em uma ideia teomânica de doadores da existência. Esta maneira de pensar leva-nos a uma terrível tensão, causa das doenças, envelhecimento e perecimento rápido.

Quando se fala que Deus tem todo o poder para realizar qualquer coisa, e deparamos com a incrível agressão que os seres humanos fizeram a Cristo, pensamos que tal fato poderia ter sido evitado por Ele; mas, como concedeu total liberdade ao homem, não poderia ter tomado outra atitude senão aguentar essa conduta — estou dizendo que o Criador quis, inclusive, suportar a liberdade total. Tendo se tornado também um homem, sabia exatamente qual seria seu destino, e como seu amor era absoluto, aceitou o terrível martírio de sua paixão e morte.

O próprio cristianismo foi desde o seu início ensinado de maneira invertida; Cristo realizou e falou de um modo, e os seus seguidores imediatos realizaram e disseram muitas vezes o contrário, mesmo que muitos deles tivessem sido santos.

O mestre dos mestres indignava-se com a atitude hipócrita dos fariseus (Mateus, cap. 23) e os combatia veementemente; os cristãos posteriores irritavam-se com a chamada concupiscência, reduzindo toda a sua pregação ao combate do chamado materialismo.

É evidente que a verdadeira ideia cristã foi totalmente distorcida, passando-se a dar atenção a um fator secundário e olvidando o mais importante, que é a soberba e a megalomania; a instituição cristã foi eivada com um espírito negro, ao combater um fator, contra o qual era quase desnecessário lutar. E o resultado foi a preservação do paganismo, em uma pretensa sociedade espiritualizada que até hoje é injusta e hipócrita, sejam os leigos, os militares e os chamados funcionários religiosos.

Toda vez que se dá uma importância muito alta ao erotismo, ele cresce na vida de uma pessoa ou da sociedade, apagando toda a consciência que deveria estar voltada para os elementos mais fundamentais da vida; na própria análise individual, se o psicanalista quiser tratar o sexo, pelo sexo, a gula, pela gula, só aumentará o desejo fisiológico, desde que os elementos físicos servem de esconderijo para a inveja, o ódio e a soberba.

A ideia de se procurar o que fazer, para corrigir o que somos, é inteiramente invertida porque tudo o que fizermos já é a manifestação do que temos; de maneira que devemos sempre procurar ver em nossa conduta o que há de errado, porque o que é certo está também lá, na base.

A pessoa que deseja se ver perfeita quer ser um deus, enquanto que o indivíduo que aceita olhar para as suas imperfeições, admite que é um ser humano e acata sua condição de dependência à realidade.

Quem é dominado pela sua arrogância, é dominado pelas pessoas mais arrogantes e a pessoa dominada pela arrogância é dominada pelo artificialismo. A humanidade sofre e luta porque renunciou à situação de felicidade que tinha no começo de sua criação; podemos afirmar que todo o esforço que temos de realizar agora é no sentido de voltar à situação antiga que tínhamos — e só depois partir para todo o desenvolvimento científico e social que já deveríamos ter realizado. Estou dizendo que no momento temos de entrar em contato com todos os erros que cometemos, para que possamos iniciar a jornada para a qual fomos criados.

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