A Doença é a Negação da Saúde – Jornal STOP 77

A Doença é a Negação da Saúde – Jornal STOP 77

Norberto R.  Keppe*
Extrato do livro O Reino do Homem, pág. 232

A maior parte dos seres humanos acusa a sociedade de ser culpada de todos os seus problemas; seja o campo da psicoterapia, psicologia, política, religião, todos eles atribuem ao meio-ambiente a causa de todos os males. Em uma rápida vista de olhos, parece mesmo assim; no entanto, se nos aprofundarmos um pouco, chegaremos a uma causa anterior, que geralmente é rejeitada, por apontar como motivo principal a nossa própria conduta; afinal, a sociedade é formada por seres humanos, que a criaram, de acordo com suas ideias e desejos.

A patologia não é a essência, porque é o resultado da inveja, do ódio e da raiva, que são atitudes artificiais, portanto, enxertadas, impostas ao que é natural, que só pode ser bom, verdadeiro e belo; não somos obrigados a produzir maus “sentimentos”, mas temos obrigação absoluta de evitá-los porque, naturalmente, somos generosos, amigáveis e simples, não havendo necessidade alguma de inverter tal ordem, negando, omitindo ou deturpando o infinito amor, do qual participamos e com o qual estamos totalmente comprometidos.

A humanidade tem vivido em função de sua doença; quase todas as suas ações e pensamentos estão voltados para a sua patologia, que constitui praticamente 90% de toda a existência; assim sendo, pouco tempo nos sobra para cuidar do que é realmente importante, ou seja, o verdadeiro desenvolvimento da ciência, a construção de uma vida social e material de acordo com a dignidade humana. A maior parte do tempo é gasta na organização da defesa pessoal e social: construção de armas de guerras, proteção aos próprios interesses egoístas e o desejo de impedir o crescimento dos rivais no campo econômico.

É fácil notar que a humanidade está dividida entre dois grupos de pessoas: uma grande maioria vive segundo padrões megalômanos, tentando organizar uma sociedade para servi-los. Por este motivo, os que nascem hoje são obrigados a se encaixar dentro de um esquema de existência paranoide, praticamente ao contrário do que deveria ser; um sistema econômico restrito, um sistema político mentiroso, grupos que se apossam do poder social, ou porque são mais fortes, como os militares, ou porque são mais teomânicos, como os religiosos. A paranoia é o centro de toda problemática humana, porque está ligada diretamente ao processo de inversão que realizamos, vendo o mal no bem e tentando impedir que a vida, o afeto e o trabalho predominem sobre a face da terra.

Melanie Klein tomou o tema da inveja, que Freud vira nos doentes mentais graves, e aplicou nos casos de neurose, dando um grande impulso ao estudo da psicopatologia; a Trilogia Analítica continuou esse trabalho, percebendo que tal procedimento invejoso é a causa da inversão e praticamente de todo problema psicossocial. Deste modo, tornou-se possível compreender a conduta dos indivíduos doentes e até dos anjos decaídos (que lutam contra Deus), porque colocam no outro, na sociedade e no Criador a origem de todos os seus infortúnios.

Geralmente percebe-se no paranoico uma quase absoluta censura à visão dos próprios erros, com o concomitante esquecimento de toda grandeza e magnificência que nos rodeiam; porém, não se pode dizer que tal pessoa tenha apagado toda a sua consciência, mas sim impedido constantemente que ela exista corretamente. O ser humano tem de notar que pensa de acordo com os sentimentos, podendo-se estabelecer uma regra infalível: quanto mais afeto, mais realista; quanto mais inveja, ódio, megalomania e teomania, mais deturpação, negação e omissão da realidade; a origem do raciocínio está no afeto, seguindo sua direção.

Quando Freud elaborou seu primeiro estudo sobre a origem da neurose, dizendo que ela viria em consequência de um desvio da elaboração consciente normal, acertou magistralmente; mas depois que colocou a sua causa no sexo, imaginando a existência de um inconsciente, desviou-se totalmente do rumo certo, influenciando todo estudo da psicopatologia. O Complexo de Édipo, de Castração, a Inveja do Pênis e um Superego formado pelas regras impostas pelos pais e educadores constituem um incentivo à persecutoriedade de cada pessoa.

Freud pensou que os chamados mecanismos de defesa, que se constituem justamente no motivo da neurose, fossem destinados a preservar a sanidade, ou seja: a regressão, recalque, conversão, autoagressão, identificação, supercompensação, sublimação, racionalização, substituição e projeção. Se a pessoa conseguir evitar tal conduta, será sã, exatamente ao contrário do que imaginava o pai da psicanálise e toda a psicopatologia moderna influenciada por ele.

About The Author

Related posts

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *