Artigo publicado no Jornal STOP, edição 62
Norberto R. Keppe,
Extrato do livro A Medicina da Alma,
Alguns especialistas mais exaltados chegam a dizer que a verdadeira medicina é a Psicanálise. E criam uma polêmica em torno da primeira origem sobre as doenças, como na velha frase: “Quem existiu primeiro, a galinha ou o ovo?”
Ao contrário, muitos médicos procuram encontrar a causa da neurose na química orgânica, à semelhança de muitos psiquiatras com as psicoses.
Provavelmente, existe essa discussão pela dificuldade de se admitir no ser humano um princípio não sensorial, que é o psiquismo.
Evidentemente, não quero incorrer no erro platônico de admitir duas entidades distintas na formação do homem. Mas, psique e corpo funcionam como um todo, recebendo influência mútua. Por este motivo, quando um cirurgião elimina um foco infeccioso, o indivíduo se sente mais calmo, ou quando tem o seu problema neurótico resolvido, elimina concomitantemente as doenças orgânicas. Mas, nem o mal psicológico poderá ser eliminado definitivamente pelo bisturi e pelos remédios, assim como, na existência de um comprometimento físico, o medicamento tem o seu valor inestimável.
“A Psicanálise visa muito mais tornar o indivíduo autêntico, veraz em suas iniciativas, livre e sincero, o mais espontâneo possível”
Assim como não se vai ao médico, quando se está são, ninguém procura o psicanalista sem ser portador de sintomas que o façam sofrer. Não foi ainda criada uma medicina preventiva da alma, que funcione satisfatoriamente.
Deste modo, somente o indivíduo realmente doente vai ao especialista. E, quando chegou a este ponto, precisa realmente de um, ou dos dois tipos de tratamento.
De modo geral, é inútil aconselhar ao portador de uma úlcera, de bronquite etc., que faça uma psicanálise. O mal orgânico é o agudo, e desvia toda a sua atenção. E não apenas por isso, mas, através dele o doente encontrou afeto e proteção que sempre quis, e não consegue admitir a possibilidade de sair de tal situação. Neste caso, como poderia o analista agir e levá-lo justamente ao contrário do que ele deseja?
Os leitores poderão notar que, no sentido em que estamos nos desenvolvendo, a neurose constitui o primeiro fator etiológico de todas as doenças, psíquicas ou orgânicas.
O leigo em Psicanálise acha que a finalidade primordial desse tratamento é tornar o indivíduo bonzinho. Evidentemente isso seria aumentar o processo neurótico, desde que forçaria um recalque maior, fator responsável pela doença.
A Psicanálise visa muito mais tornar o indivíduo autêntico, veraz em suas iniciativas, livre e sincero, o mais espontâneo possível. Sua finalidade não é a de tornar os homens “santos”, mas simplesmente criaturas que têm consciência de sua função, de seus impulsos e vontade. A sociedade é hipócrita e está em crise porque finge demais. Não conseguimos mais aceitar este estado de coisas e por isso vamos a fundo, em nossas análises, até que a verdade surja — mesmo que doa.
Toda nossa conduta é condicionada nos recalques. Vamos de uma vez ter a coragem de abrir os olhos, para ver e apontar a realidade.
Não adianta mudar apenas os aspectos externos: o cabelo, o vestuário ou o automóvel. Vamos diretamente ao problema, para resolvê-lo. Esta é a função do psicanalista, o médico da alma, que não pode viver na mentira.
Sabemos que não é pequeno o número de pessoas que procuram os balneários, os alimentos mais recomendados pelos nutricionistas, e estão dispostos a ingerir qualquer remédio, caso possam conservar sua mocidade por mais tempo. Todos os meios físicos são procurados, e, o principal, aquele que, de fato, é o verdadeiro responsável pela beleza e juventude do corpo, não é manipulado: a alma com todas as suas manifestações.
O indivíduo pode ser um Adônis ou uma Vênus aos trinta, quarenta ou cinquenta anos, ou, pelo contrário, uma bruxa ou um animal feroz, aos vinte, caso dê ênfase aos fatores positivos ou negativos de sua vida psíquica.
Os cuidados com a alma não favorecem apenas a saúde orgânica, mas trazem maior perfeição ao corpo. O equilíbrio psíquico aperfeiçoa o físico.
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