“Sorte do Brasil Pela Crise Americana”

“Sorte do Brasil Pela Crise Americana”

Artigo publicado no Jornal STOP, edição 55

Entrevista de Norberto R. Keppe a José Ortiz Camargo Neto, jornalista do STOP

Em outubro de 2008, quando se tornou visível aos olhos do mundo a falência dos bancos americanos, o desmoronamento de Wall Street e a queda mundial das bolsas de valores, o psicanalista, filósofo e cientista social Norberto Keppe afirmou:

“O Brasil não sofrerá com a queda das bolsas, a não ser os especuladores”.

E acrescentou: “Não é a economia autêntica que está caindo, mas a sociedade fictícia que está desmoronando”.
(Jornal STOP nº 12, 16-31 de outubro de 2009, matéria de capa).

Autor de Trabalho e Capital, A Decadência do Povo Americano e dos Estados Unidos, A Libertação dos Povos – Patologia do Poder e de outras obras sobre sociopatologia e economia, sua previsão mostrou-se totalmente acertada, pois de fato vimos o Brasil crescer e progredir nos últimos três anos, em meio à crise mundial.

Também agora, que a moratória dos Estados Unidos tornou-se questão de tempo, Keppe voltou a dizer que “o Brasil não será afetado, ao contrário, acabar a especulação vai ser uma sorte para todos os países, bastando que se dediquem ao trabalho”.

STOP: Estamos vendo os Estados Unidos à beira da moratória e uma queda geral nas bolsas de valores mundiais. Como o senhor vê essa crise atual?

N.K.: Como eu costumo dizer, estamos assistindo ao desmoronamento da sociedade imaginária, dessa economia fictícia, baseada na especulação do dinheiro fazendo dinheiro, como acontece com as apostas nas bolsas.

Não é a economia autêntica que está caindo, ou seja, aquela baseada no trabalho, na agricultura, na produtividade.

Geralmente, as pessoas ficam impressionadas com as bolsas em queda, com o fim da especulação, mas isso vai ser uma sorte para os países, pois estamos presenciando o fim da ilusão econômica, que é um jogo de números, um comércio mais das finanças e não da economia verdadeira.

Essa crise fará com que o ser humano retorne ao trabalho, e a civilização terá um desenvolvimento formidável.

“Não é a economia autêntica que está caindo, mas a fictícia”

STOP: Em seu livro Trabalho e Capital, publicado em 1990 na França, o senhor recomendou que todas as nações deveriam ver o que estava acontecendo nos Estados Unidos para evitarem cometer os mesmos erros e entrar pelo mesmo processo de decadência. O senhor poderia explicar melhor o que quis dizer com isso?

N.K.: Como eu disse no livro A Decadência do Povo Americano, a civilização do passado, que construiu o país, valorizava o trabalho, mas atualmente o americano simplesmente deixou de trabalhar.

Ele passou a valorizar mais o dinheiro e não o trabalho, como expliquei em meu livro Trabalho e Capital. A mesma inversão na mentalidade ocorreu em todos os setores. Por isso os Estados Unidos podem ser considerados como sendo a civilização que não deu certo, constituindo o exemplo de todo o fracasso das teorias modernas, seja a econômica, a psicanalítica freudiana (e junguiana), as ideias educacionais e principalmente a filosofia pragmatista e sem alma de John Dewey.

O problema não é econômico, mas humano. Primeiramente é o homem que decai, depois é a sociedade, inclusive no seu aspecto material.

“Essa crise fará com que o ser humano retorne ao trabalho, e a civilização terá um desenvolvimento formidável.”

STOP: Como o senhor pensa que os países reagirão a essa crise?

N.K.: Os povos que ainda produzem terão possibilidade de passar bem por essa crise, mas o norte-americano passará por uma duríssima experiência, até que retorne à antiga atividade que o tornou tão conhecido.

Segundo nossas descobertas, é de importância fundamental ter consciência dos próprios erros para que se possa cuidar deles. Isso se aplica a pessoas, grupos, empresas ou nações. E, no que se refere aos Estados Unidos, a grande dificuldade é que o povo americano não consegue aceitar a consciência de sua decadência, motivo pelo qual não alcança sua recuperação.

Quanto ao Brasil, volto a repetir que o país não sofrerá com a crise, a não ser os especuladores, pois não seguiu essa economia especulativa; e podemos dizer que nós influenciamos muito nisso, devido ao fato de haver pessoas na esfera do poder que aceitaram bem nosso trabalho. Como já dissemos, essa crise é positiva, pois fará com que o ser humano retorne ao trabalho, à sua essência, que está na ação, no trabalho bom.

O trabalho refinado, de qualidade, será o futuro da economia em todos os setores. Quando o trabalho correto for estabelecido em alguns países, todos os outros serão obrigados a segui-los, sob pena de permanecerem num atraso atordoante.

O Livro que Previu a Crise Atual dos EUA

www.livrariaproton.com.br
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Publicado nos Estados Unidos com o título The Decay of the American People – and of the United States, em 1985, este livro de Norberto Keppe anunciou com mais de duas décadas de antecedência a atual crise econômica incontrolável dos Estados Unidos, se o país não mudasse de orientação econômica (e de vida). A obra constitui um alerta a todos os povos para evitarem seguir o mesmo rumo, a fim de preservarem suas economias. Leia abaixo extratos do livro:

Prólogo

Nós não estamos só escrevendo um livro, mas lançando o começo de uma conscientização fundamental para salvar este país de uma total decadência. O nome deste livro é A Decadência do Povo Americano (e não declínio), porque a palavra decadência tem o sentido de um desmoronamento total da nação, algo irremediável ou irrecuperável; e dentro dos moldes comuns de nossa civilização, tal fenômeno tem se mostrado irreversível.

Se for possível estancar este processo aqui, será primeira vez em toda a História da Civilização. Em minha opinião, se a causa da decadência for detectada, conseguiremos estancá-la — e até mesmo retornar ao desenvolvimento. Acredito que a ciência trilógica está em condições de realizar tal empreendimento porque: 1) tem consciência de tal acontecimento; 2) tem conhecimento da causa da decadência do povo americano; e 3) se estes dois fatores forem percebidos, a nação será recuperada. É de fundamental importância que o americano perceba que nós estamos querendo ajudá-lo, e a única maneira de auxiliar uma pessoa, ou a comunidade, é apontar os seus erros — se eu não fizesse isto, jamais poderia viver com a consciência tranquila.

Se a nação está decaindo é porque o povo está se deteriorando (…) O americano precisa voltar ao seu brio, notar que a dignidade causa grande prazer, que é melhor a inteligência do que a estupidez, a construção do que a destruição, a beleza do que a feiura, a limpeza do que o lixo. Estamos no tempo de dar um basta à psicologia e psicanálise errôneas, de coibir a esperteza dos agiotas — de tomar conta do que pertence a todo o povo, e que está nas mãos dos indivíduos hipócritas e desonestos.

Você pode evitar a decadência dos Estados Unidos, se aceitar a consciência que este livro está lhe trazendo — talvez ainda haja tempo de salvar este país. Este trabalho poderá marcar o início da sua recuperação, ou a sua última pá de terra, se não for aceito; de uma coisa tenho certeza: em todas as regiões haverá lamentação por ter acontecido isto. O americano abnegado e heroico, a americana alegre e simpática, poderão ficar como símbolos de como poderia ter continuado esta civilização — como as estátuas dos museus falam de como foi o passado da terra (Grécia ou possivelmente a Atlântida ).

Decadência Material

Não é necessária uma guerra atômica para que os Estados Unidos pereçam; este país já está em grave estado de decadência, à semelhança do Império Romano. Por exemplo, o hábito muito difundido aqui de fumar maconha, ingerir cocaína ou de beber exageradamente (para se alienar) ataca as células cerebrais, destruindo- as. Deste modo, podemos dizer que grande parte dos americanos já estão meio bobos — incapazes de serem úteis, não só a si próprios, mas à civilização e ao seu país. Tal fato constitui uma destruição do seu principal fundamento.

Será que estamos em uma nação em perigo de desmoronamento? Não, estamos em um país já desmoronando. Provavelmente, a decadência americana é ainda maior do que pensamos – e os Estados Unidos só não desmoronaram completamente porque trouxeram um vigor incrível do passado (…) mas se continuar assim, em menos de cinco anos, as outras nações irão dispensar totalmente os artigos feitos nos Estados Unidos. A situação é muito séria.

Proton Editora
(11) 3032-3616
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